terça-feira, 22 de outubro de 2013

Sobre Heddy Lamarr

Esse texto não é meu, pertence ao geek .com.br, mas achei muito interessante e falando sobre uma atriz muito legal, entao estou "compartilhando" já que tenho intençao de escrever sobre ela posteriormente .Se o site se sentir ofendido é só me mandar uma mensagem que eu tiro .
“Qualquer garota pode ser glamorosa. Tudo o que ela tem de fazer é ficar parada e parecer burra”. Essa é a frase mais famosa da nascida Hedwig Eva Maria Kiesler, de origem austríaca, atriz que já foi considerada a melhor em seu auge profissional com sua presença marcante e beleza incontestável nas décadas de 1930 e 1940. Ninguém mais improvável para inventar uma tecnologia que iria revolucionar as comunicações militares e, décadas depois, ser a base da telefonia celular.
A ascensão de Hedy Lamarr ao mundo dos filmes – e, consequentemente à fama – deu início quando a aspirante a diva atuou no filme checo chamado Êxtase (Ecstasy), em 1932. A cena principal era um escândalo para a época: 10 minutos de pura exibição sexual (para a época, é claro – confira aqui: video.mail.ru/mail/valpal1989/1695/3207.html).

É fato que um comitê do governo americano se escandalizou, a fita saiu de cartaz logo depois de sua primeira apresentação ao público e a maioria das cópias acabaram sendo queimadas. Mas, embora o filme pudesse ter sido responsável por encerrar a então curta carreira de Lamarr, na verdade, foi o impulso para dar início a tudo.

Antes mesmo da guerra começar, Hedy recebeu um convite para trabalhar em Hollywood pela MGM, onde ganhou o nome artístico de Hedy Lamarr por Louis B. Mayer. Atuou em mais de 30 filmes ganhando especial popularidade depois de protagonizar, ao lado do galã Victor Mature, no filme Sansão e Dalila, produzido em 1949. Mas, atrás da imagem de estrela, Lamarr desafiou os esteriótipos escondendo – por pouco tempo – a inteligência e criatividade que faziam dela uma artista de pinturas abstratas e uma poderosa inventora.

Quando a guerra explodiu em 1945 Lamarr decidiu fazer algo a respeito, mesmo tendo o fútil mundo da fama e do dinheiro na palma de sua mão- apesar do patriotismo estar aflorando toda a população americana, a bela atriz tinha razões pessoais para tentar mudar o percurso da guerra contra os nazistas.

Lamarr fugiu das ciumentas garras do seu primeiro marido, Friedrich Mandl, e foi a Hollywood estrear sua carreira mundial. Extremamente possessivo, Mandl tinha a esposa como uma obra de arte ambulante, que exibia com orgulho. Entretanto, fora dos olhos das pessoas influentes, Mandl trancava Lamarr na mansão e mantinha uma empregada á sua sombra.

A causa da fuga também foi o impulso para sua invenção anos mais tarde. Mandl era dono de uma fábrica herdada por seu pai que vendia pesados armamentos bélicos – adepto do fascismo e do nazismo, frenquentemente vendia armamentos a Hitler. A atriz até chegou a conhecer Mussolini pessoalmente.

Cansada da infelicidade matrimonial, Lamarr drogou a empregada e fugiu com todas as suas jóias depois de quatro anos de casamento. Porém, antes da fuga Lamarr tinha visto o suficiente para mudar os rumos da Segunda Guerra. Mandl estava tentando utilizar a recente “moda” do rádio para controlar armas à distância – o rádio era obviamente melhor do que cabos elétricos para isso, pois vão muito mais longe.

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Nas ondas do rádio

Desde o fim do século 19 que nomes como J. C. Bose, Heinrich Hertz, James Clerck Maxwell, Alexander Popox, Sir Oliver Lodge e Nikola Tesla já experimentavam com a transmissão de mensagens por ondas de rádio. Mas foi um italiano naturalizado americano, Guglielmo Marconi, que transformou todas as pesquisas de seus antecessores em um produto vendável e (principalmente) que podia ser produzido em série.

Usadas primeiramente na telegrafia, depois na telefonia sem fio e por fim como rádiodifusão (estações comerciais com música e noticiário), as ondas de rádio prestavam-se muito bem para transmitir mensagens durante a guerra e também para, como queria Mandl, controlar armamento à distãncia.

Só havia um pequeno problema: ao contrário dos cabos, mais difíceis de encontrar, o inimigo tinha fácil acesso às mensagens via rádio. Assim como hoje você ouve sua FM preferida no rádio do carro em qualquer lugar da cidade, bastava o inimigo “sintonizar” na sua estação para ouvir as comunicações entre o comando e o front.

Além disso, sabendo a frequencia em que a “conversa” se dá, o inimigo pode facilmente não só ouvi-la como interferir nela.

É nesse interim que Lamarr e o músico George Antheil entram na história.

É difícil determinar como o pianista George Antheil e a atriz Lamarr se conheceram. Há fontes que dizem que graças à grande popularidade de Antheil, os dois se conheceram em uma festa em Hollywood, porém há quem diga que os dois foram vizinhos no verão de 1940 e Hedy, sabendo do vasto conhecimento geral de Antheil, o questionou se ele podia aumentar seu seios. Enfim, de um jeito ou de outro, os dois logo se tornaram amigos.

Sozinho, George Antheil tinha razões pessoais suficientes para querer acabar com a Guerra ou, pelo menos, tentar. Na década de 30, Hitler começou uma caçada à casas musicais que promoviam a estética do Modernismo – para Hitler, o Modernismo era uma aberração judaica e a Alemanha Forte deveria ater-se aos ideais do Romantismo, expoente no século 19.

Sem saída, Antheil – um músico obviamente afinado com seu tempo – fugiu da Europa e refugiou-se nos Estados Unidos. Antheil estava furioso com Hitler. Não somente por destruir seu meio de trabalho e sobrevivência, mas por influenciar negativamente, segundo sua opinião, a arte europeia. Peter, seu filho, lembra que o pai gostaria de ter entrado para o exército, mas não podia devido à idade. Dessa maneira, Antheil e Lamarr compartilhavam a vontade de lutar e participar ativamente da Segunda Guerra Mundial.

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Como esconder uma transmissão de rádio

Hedy – que possuía fortes conhecimentos de física e rudimentos de eletrônica – tinha bolado sozinha um conceito inovador chamado de “alterância de frequências” ou “frequency hopping”. Pela idéia dela, bastava o transmissor e o receptor mudarem repetidamente de frequência para tornar impossível a receptação pelo inimigo.

Imagine novamente sua estação de FM preferida no rádio do seu carro. Você só consegue sintonizá-la porque a frequência (no caso do FM, em megahertz) da estação não muda nunca, está sempre no mesmo lugar. Para quem tem uma FM comercial isso é o desejado, afinal ele quer que você encontre e escute a rádio!

Numa guerra, entretanto, a idéia de Lamarr faz sentido. Se você mudar constantemente a frequência de transmissão (e obviamente não contar pra ninguém), o inimigo não terá como descobrir onde está a estação que deve sintonizar. Se houvesse uma maneira de sincronizar o receptor aliado com a frequencia do transmissor, apenas os dois aparelhos em sincronia teriam acesso às mensagens. A ideia de Lamarr empacou nesse “detalhe”: como sincronizar os dois lados?

A contribuição da Antheil veio para resolver justamente esse problema, e usando um expediente que ele já tinha empregado (olhe só) em uma música de sua autoria, Ballet Mécanique. Antheil propôs que a sincronização da frequência do rádio se daria da mesma forma que a sincronização dos 16 pianos de sua mais famosa obra musical: com rolos perfurados de pianos automáticos, uma tecnologia do século 19 que se vê em muitos filmes de época.

Transplantando para o mundo das telecomunicações, bastava adaptar nos transmissores e receptores esse mesmo rolo dos pianos. Bastava que a transmissão e a recepção acontecessem exatamente no mesmo momento e pronto: comunicações secretas entre dois pontos. O sistema era capaz de usar 88 frequências diferentes em uma transmissão – o mesmo número de teclas do piano, o que não é nenhuma coincidência.

O fato de a frequencia mudar rapidamente com o tempo tinha outro efeito colateral: além de impedir que o inimigo ouça as comunicações, também dificulta que ele interfira nelas.

A ideia logo se chamou “Sistema de Comunicação Secreta”.

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Como esconder uma transmissão de rádio, parte 2 (ou: roubando uma patente)

Finalmente Lamarr e Antheil tinham em suas mãos uma arma funcional que poderia ajudar os aliados a vencer a guerra. Como qualquer enterpreneur americano, pretendiam patenteá-la. Para isso receberam ajuda de um engenheiro elétrico do Instituto de Tecnologia da Califórnia e em 1942, a patente foi oficializada. Como era um sistema bem complicado (e era mesmo), o entusiamo dos inventores era, de longe, muito diferente daqueles que questionaram a eficácia da invenção.


Parte da patente de Hedy Lamarr e George Antheil, que descreve um sistema mecânico para salto de frequência, o futuro Spread sSpectrum que controlavam remotamente torpedos. Imagem: eetimes.com

Os militares norte-americanos, em especial, não levaram a sério a associação entre o sistema proposto e um mecanismo originalmente concebido para tocar música em salões cheios de moçoilas afetadas. Não ajudava nada o fato de que, nos anos 30, os militares eram muito mais resistentes a mudanças e a novas tecnologias – o contrário da guerra computadorizada de hoje. A dupla, vendo que não conseguiria levar a ideia adiante, desistiu dela, e ambos passaram a usar seu prestígio artístico para conseguir fundos para financiar a guerra.

O interessante é que, apenas 12 anos após o fim da guerra, em 1957, alguns engenheiros da divisão de sistemas eletrônicos da multinacional Sylvania criaram um sistema seguro de comunicação militar usando o mesmíssimo princípio – só que empregando a eletrônica em vez de complicados mecanismos de relógio e rolos de papel perfurado. Foi mantido em segredo até 1959, quando a patente de Lamarr e Antheil já tinha expirado, e foi usado ostensivamente por navios de guerra desde então.

O trabalho da dupla, entretanto, ainda é citado até hoje nos pedidos de registro subsequente de patentes tanto civis quanto militares. Não obstante, nem Lamarr nem Antheil jamais ganharam um centavo com isso.

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Finalmente, Spread Spectrum

E se em vez de usar um número finito de frequências, espalhássemos a transmissão de forma quase infinita e dentro de uma grande faixa de frequências? Muita gente fez isso, e a tecnologia resultante ficou conhecida como Spread Spectrum, ou espalhamento espectral.

Como ficou provado logo após a Segunda Guerra, o Spread Spectrum poderia impedir que os inimigos ouvissem as transmissões. Mas o paradigma mudou, se comparado ao do frequency hopping de Lamarr e Antheil. Com um número muito grande de frequências, em vez das 88 propostas, o sinal deixa de ser percebido como uma transmissão de fato e passa a ser ouvido como puro ruído radioelétrico. O nível do sinal é tão baixo que, fazendo-se passar por um ruído de fundo, não é percebido.

Mas, à medida que as pesquisas avançavam, descobriu-se mais características que tornavam o Spread Spectrum interessante:

1. A já citada segurança na comunicação (o inimigo não consegue escutar a mensagem);

2. Resistência a interferência destrutiva (o inimigo não consegue embaralhar a mensagem, impedindo a comunicação);

3. Resistência a interferências naturais (o sistema é mais resistente a interferências dos fenômenos climáticos, é mais difícil causar a interrupção ou );

4. A possibilidade de vários canais de comunicação usarem a mesma faixa de frequência.

De fato, desde que o “frequency hopping” de todos os canais não coincida, pode-se colocar vários canais dentro da mesma faixa. A telefonia celular (por exemplo, a tecnologia CDMA) faz uso dessa característica do Spread Spectrum, o que garante a confidencialidade das ligações telefônicas e transferência de dados. De quebra, com um controle adequado e usando técnicas modernas de multiplex, essa característica permite que mais canais telefônicos sejam “enfiados” na mesma faixa de frequência do que seria possível com técnicas mais tradicionais. Outra tecnologia que se baseia no princípio é o Bluetooth.

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Quem diria que tudo isso seria resultado não das pesquisas de um cientisa em algum galpão obscuro da Marinha, mas sim de uma rápida ideia de uma linda, rica e talentosa atriz de Hollywood. Literalmente, coisa de cinema.

Trivia: uma imagem de Lamarr foi usada por muitos anos pela Corel para ilustrar a caixa, os manuais e o Splash Screen de seu software mais conhecido, o CorelDRAW.

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